GAMO MADE IN BRAZIL – SURVIVAL 4,5 mm

[Orlando]

Modelo fabricado em nosso país com base na Gamo Ranger espanhola, com algumas diferenças no sistema de gatilho, fixação do zarelho e coronha retrátil, em relação aos modelos produzidos aqui no país.

Arma comprada usada e apresentando um estado de conservação razoável, mas necessitando de reparos e adaptações. Ela veio com a tala da telha/pistol grip esquerda quebrada e faltando o carregador tubular e com ferrugem superficial principalmente no cilindro, apesar de ter sido anunciada com uma ordem de serviço de manutenção executada em 01/2019.

A carabina foi totalmente desmontada, e preparada para a oxidação à quente, de modo a retirar os pontos de ferrugem e algumas marcas mais superficiais, portanto não passando por um lixamento mais severo.

A Survival recebeu novos anéis de vedação do cano silicone (Dione) e do cilindro de PU da Elite Gamo Delta Max Force, assim como a bucha de PU da Elite Gamo 68, mantendo a mola nela instalada, a qual passou por um recondicionamento. Após pouco mais de uma ano de uso, a bucha foi substituída por outra de PU da Elite para Norica (não por estar danificada), onde um ajuste fino no diâmetro foi necessário, essa mudança foi feita buscando um incremento da VO pelo aumento volumétrico do cilindro, em virtude da diminuição da espessura da bucha. Essa adaptação deve ser bem criteriosa, pois se a espessura for muito reduzida em relação a original, o êmbolo após o disparo pode chocar contra a sapata da biela! Tal alteração foi baseada na experiência positiva feita na Gamo 68 com gatilho metálico, que também recebeu uma bucha original da Norica ajustada.

O sistema de travamento da coronha rebatível apresentava uma peça com certo desgaste em uma das extremidades, a qual foi recondicionada com o preenchimento por solda MIG, essa mesma coronha por apresentar a soleira ainda original teve sua parte metálica lixada e posteriormente recebeu oxidação à frio e por fim uma cobertura de tubo termo retrátil em quase toda sua extensão. Sua estrutura de alumínio foi preparada e repintada com tinta batida de pedra na cor preta e tinta spray preto fosco, como acabamento.

Quanto ao tubo de carregamento, após a obtenção de suas dimensões baseados no tubo de carregamento original da Gamatic, parti para a busca de um tubo metálico mas não obtive sucesso, foi quando consegui achar um que atendia perfeitamente em fibra de carbono, um detalhe na época algumas lojas anunciavam esse tubo de carregamento para as Gamatic, mas na verdade eles eram peças de reposição das Shadowmatic, suas dimensões são menores e comportam apenas 10 chumbos, enquanto as Gamatic comportam 25 chumbos.

Para resolver o problema dos acabamentos laterais em plástico, acabei comprando uma Gamo 68 que serviu de doadora, possuindo somente essas duas peças de acabamento, mas em perfeitas condições, feita a substituição houve a necessidade de remover duas coisas, a primeira foi o sistema de trava de segurança, pois a telha da G 68 não possui o alojamento para isso, e a segunda foi a abertura de uma janela no ponto onde a cabeça do parafuso de regulagem da lateralidade fica encaixado, quando o cano é basculado. As peças originais já apresentam essa possibilidade de ajuste, dependendo do modelo que irá recebê-las 68 ou Gamatic, com a simples remoção desta fina cobertura.

Os acabamentos laterais plásticos do pistol grip, foram lixados com lixa 600 e lavados com desengordurante para a remoção de todo tipo de gordura, receberam pintura com tinta spray Rust-Oleum Camouflage nas cores marrom terra e verde floresta respectivamente.

Para a confecção do tubo carregador foi usado o original da Gamatic como modelo, esse tubo apresenta um diâmetro pouco usual (7mm), portanto difícil de ser encontrado em metal, o único disponível com as dimensões praticamente iguais, foi em de fibra de carbono, cortado no comprimento de 242 mm e que apresenta diâmetros externo de 7 mm e interno de 4,85 mm.

Uma vez cortado no comprimento adequado foi a vez de abrir a fenda por onde corre o ferrolho, o primeiro produzido essa abertura foi executada com uma micro retífica com um tipo de guia sobre o mandril, para permitir um corte reto, já na segunda tentativa o sistema de guia não funcionou, e como consequência o tubo foi descartado. Como solução para a abertura de forma retilínea do terceiro tubo, após o nivelamento deste entre os mordentes da morsa, usei como guia uma barra chata de metal alinhada paralelamente ao centro do tubo e que foi colada sobre um dos mordentes da morsa com cianoacrilato, essa barra deve ser maior do que a fenda a ser aberta, permitindo assim maior facilidade na abertura da fenda, com o uso de um pedaço de serra de metal (Starrett) que apresentava uma ponta bem afiada, fui riscando e aprofundando esse risco aos poucos até conseguir atravessar a parede do tubo.

A segunda etapa da preparação dessa fenda, foi a de abrir as extremidades com uma broca de aço rápido de 4 mm, e depois aumentar a largura da fenda com uso de lima agulha chata para cerca de 2,5 mm, permitindo assim o deslocamento do ferrolho de forma livre e suave. Para imobilizar o ferrolho no momento de municiamento do carregador, é necessário a abertura de uma pequena fenda em ângulo fechado, permitindo dessa forma que a pressão da mola e o encaixe do ferrolho na fenda, mantenham o mesmo travado.

Com as aberturas do tubo ajustadas e finalizadas, chegou o momento de confeccionar o ferrolho, feito a partir de um prego 21x42 ou 21x48 (+- 4,8 mm), cortado com uso de uma furadeira e arco de serra, faz-se o corte da ponta (cerca de 5,7 mm), que será inserido no final do tubo para fechamento deste, com o restante do prego faz-se o corpo do ferrolho (cerca de 23,9 mm), esses valores não são exatos por dependerem do comprimento total da fenda (+-133 mm) e da capacidade total de chumbos pretendida. O importante na configuração do ferrolho é que ele sobrepasse no máximo 1,0 mm além do tubo do carregador, permitindo assim a introdução total do chumbo dentro da pastilha, vale lembrar que se o sobrepasse for maior, o ferrolho impedirá o fechamento do cano!

O rebaixo na traseira do corpo do ferrolho deve ter o diâmetro suficiente para ser inserido dentro da mola (3,2 mm), com comprimento de 3 mm. O furo com rosca que irá receber o parafuso allen é M3, posicionado a aproximadamente 14 mm do início dele, essa distância dependerá do final de curso do ferrolho.

Parafuso allen M3 com rosca somente na extremidade, cortado no comprimento de 12,5 mm, sendo trabalhado na furadeira e lima, de modo a tornear sua cabeça e produzir uma pequena cintura nas dimensões de 2x2 mm, essa cintura permite o deslocamento do ferrolho de maneira suave ao longo da ranhura, constitui a alavanca do ferrolho.

A mola helicoidal com 140 espiras e passo meio de 2,5 mm, foi produzida em arame de aço (mola) inox ASI 302 duro polido diâmetro 0,45 mm e comprimento aproximado 256 mm, utilizando um arame com diâmetro de 2,7 mm por 410 mm de comprimento segundo o vídeo abaixo, gerando força suficiente para expulsar os chumbos para dentro da pastilha de municiamento, vale salientar que deve ser evitado a soltura do ferrolho sem munição, “a seco”, pois isso irá causar um aumento no comprimento da fenda, fazendo com que o ferrolho fique mais proeminente na ponta do tubo!

Deve-se levar em consideração que este trabalho por ser artesanal e não industrial, possibilita tolerâncias quanto a certas dimensões, dentro do limite que seria as dimensões de comprimento, diâmetro interno e externo do tubo, as demais podem ser ajustadas de acordo com sua execução até a montagem final do conjunto.

 

A seguir fotos do antes e depois, PDF das vistas explodidas, vídeo confecção da mola, quadro de dimensões e teste de potência:

 

-Modelo espanhol Ranger

 

-Fotos do anúncio de venda

 

-Primeira etapa da reforma concluída

 >Detalhe do preenchimento com solda MIG na trava da coronha

 >Detalhe do revestimento com tubo termo retrátil

 >Detalhe do sistema de elevação da pastilha de carregamento

 >Primeiro tubo de carregamento

 >Carabina com as talas da telha/pistol grip da G 68

 >Timbre da Gamo Brasil

 >Gatilho plástico sem regulagem com mola substituída

 >Detalhes do tubo de carregamento

 >Talas da telha/pistol grip originais com a alavanca de travamento do sistema de segurança

 >Preparação e acabamento das talas da telha/pistol grip G 68

 >Resultado Final

 >Detalhe do alojamento do parafuso de regulagem da alça de mira com o cano basculado, onde também é possível observar o anel de vedação do cilindro

 >Embalagem do anel de vedação do cilindro com observação do modelo grafada pelo vendedor

 >Arame de aço usado na confecção da mola do carregador e suas características

>Comparação entre as buchas de PU da Elite Gamo 68 e Norica ajustada

 >Bucha Elite para Norica

 

-Detalhes de materiais e dimensões na confecção do carregador

 

-Teste de potência com diferentes buchas de PU

 

-Quadro de dimensões

 

-PDF's dos modelos que usam o mesmo anel de vedação do cilindro e da prima espanhola Ranger

PLANO DESPIECE PR-45 (2006).pdf

PLANO CARABINA GAMO DELTA FOX GT (29-04-2013).pdf

DESPIECE RANGER.pdf

 

-Vídeo explicativo para produção de mola

 

 

Editado Dezembro 8, 2021 por Orlando

[Luiz Almeida]

Orlando, como sempre, um espetáculo de tópico. Parabéns pela carabina.

[Orlando]

Boa tarde amigo Luiz, obrigado pela força, aos poucos vou procurando melhorar a maneira de apresentar as informações que serão compartilhadas, abraços!

[Daniel Anibolete]

Muito bom trabalho Orlando, na minha opinião, o camuflado ficou bem mais bonito que o original, com estas formas mais definidas e com novas cores.

[Orlando]

Bom dia Daniel, obrigado pelo apoio! Sim com essas cores a pintura ficou mais viva em relação a original, gostaria de reproduzir o tipo de pintura que o Goya faz nas carabinas dele, o trabalho dele é de profissional, ele trabalhou com pintura na Mitsubishi no Japão! Abraço.

[lucielfelipe]

Muito bom, parabéns. 

[Aurélio]

Opa.

Sensacional. Baita review, detalhado, ricamente ilustrado, um verdadeiro guia de restauração.

Parabens, meu amigo.

[Orlando]

Buenas amigo Aurélio, o carregador da Gamatic foi para substituir esse que fiz. Obrigado pelo elogio!