ROSSI Modelo I de 1970 - Um achado histórico

[Charles Dias]

Amigos, tempos atrás tive a oportunidade de adquirir uma carabina de pressão Rossi de 1981 em estado de nova (clique aqui para ler o review), mas algo muito mais interessante que representa a história do tiro de pressão no Brasil veio parar em minhas mãos, um belíssimo exemplar do primeiro modelo de carabina de pressão fabricado pela Rossi no Brasil, uma Rossi modelo um que foi fabricada provavelmente em 1970, talvez um pouco antes, talvez um pouco depois segundo do Franco da Alterama.

 

 

Perdão pelo lencol de fundo, mas a foto que tirei no fundo branco não ficou legal e teve de ser essa mesma. Mas é possível ver o ótimo estado da "espinguardinha de chumbinho".

 

Até onde consegui pesquisar, a Amadeo Rossi & Cia começou a produzir carabinas de pressão na cidade de São Leopoldo (RS) em 1968, justamente com o modelo dessa arma. Uma carabina de pressão de mecanismo um tanto simples, porém muito engenhoso, produzida com ótimo padrão de qualidade. O que levou à identificação do modelo dessa carabina foram três detalhes:

 

1 - Ela não possui número de série, indicação de data de produção ou nada mais que não a marca e o tamanho do chumbo que utiliza (4,5), algo que mudou apenas a partir de 1977;

 

2 - A alça de mira do tipo deslizante, que alguns anos depois foi substituída pela do tipo chamado de "escada" ou "degraus";

 

3 - A andorinha em alto relevo na guarnição de plástico da coronha.

 

 

 

 

Marcação do fabricante no cano da arma.

 

Considerando que essa tem por volta de 40 anos, ela está em excelente estado, ainda mais considerando que carabinas de pressão Rossi tão antigas como essas são cada vez mais difíceis de serem encontradas e na maioria das vezes não estão funcionais, mas tomadas de ferrugem, travadas, faltando a massa e/ou alça de mira, enfim, em estado deplorável. Esse exemplar, no entanto, encontrasse em ótimo estado tanto de aparência quanto de funcionamento, revelando que o antigo dono cuidou muito bem dela por tantas décadas.

 

área da arma onde geralmente é gravado o número de série que nesse caso não traz um caracter sequer.

 

O antigo dono, um senhor na casa dos 70 anos, contou que a adquiriu em 1972 do sogro que a tinha comprado nova alguns anos antes. Segundo ele essa carabina proporcionou muita diversão para ele, os filhos e os netos nos finais de semana no sítio atirando em latas, laranjas no pé e alvos improvisados em pedaços de papelão de caixas onde vinham as compras do armazém. Notem nas fotos que a oxidação maior na extremidade do cano corrobora esse relato, uma vez que é resultado do suor de Deus sabe quantas mãos suadas armaram essa arma em divertidos finais de semana no sítio. As outras parte da arma, no entanto, ainda guardam grande parte da oxidação original de fábrica.

 

A alça de mira dessa velha Rossi tem apenas ajuste de elevação, que é feito deslizando a peça metálica que abraça a lingueta com escalas. No entando, não é muito prática, uma vez que com os desparos facilmente sai do lugar, exigindo ser novamente ajustada. Anos depois foi substituída por alça do tipo "escada" ou de "degraus" que não sofriam desse problema. De todas as peças das carabinas de pressão dessa época que chegaram aos dias de hoje, a alça de mira é a que mais falta, uma vez que com o uso descuidado acaba quebrando e quando muito era substituída por um singelo parafuso.

 

Comparada com as Rossi Dione atuais, essa arma é sensivelmente menor e mais "magra". Isso se deve a dois motivos:

 

1 - Era uma carabina de pressão voltada, principalmente, para o público adolescente que tem uma compleição física menor que a dos adultos;

 

2 - Na época em que foi produzida, as pessoas eram menores em comparação com quem nasceu nas décadas de 90, por exemplo.

 

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A massa de mira dessa arma é do tipo "barbatana de tubarão" fixa. Muito simples, porém eficiente. Nessa foto é possível ver a corrosão causada por dezenas, quiçá centenas, de mãos suadas que pegaram na ponta do cano para armas essa carabina veterana, testemunho de sua história.

 

Atirar com uma carabina dessas é uma experiência um tanto estranha para quem está acostumado com as armas de pressão maiores dos dias atuais. Parece que vamos atirar com uma arma de brinquedo por conta de seu tamanho reduzido e "magro". No entanto ela é muito confortável de usar, mesmo por quem tem compleição física mais avantajada. A utilização do conjunto de mira é intuitivo. O gatilho é macio. O recuo é inexistente. E os resultados, ahhh, esses surpreendem. Sinceramente, não esperava que uma arma tão antiga fosse tão precisa. A 10 metros os resultados realmente surpreendem.

 

Sim, esse foram os resultados que obtive com essa velha Rossi que tem lá seus 40 anos a 10 metros em pé, sem apoio, e com mira aberta. Lógico que antes fiz cinco disparos para pegar o jeito da mira, uma vez que não há ajuste lateral. Usei chumbos Rossi, que ela gostou muito.

 

Quando peguei esse arma, ela estava um tanto empoeirada e com algo no cano que parecia um chumbo enroscado. Uma limpeza cuidadosa e paciente com óleo Polarprot da Alterama, uma flanela macia e uma escova de dentes macia (nova, claro) foi o suficiente para deixá-la no estado mostrado nas fotos. Com a ajuda de um kit de limpeza de canos descobri que não havia chumbo nenhum preso no cano, mas apenas uma velha teia de aranha. Depois de limpo o raiamento do cano se mostrou muito bem preservado e absolutamente livre de ferrugem, incríveis isso depois de sabe-se lá quantos anos sem uso.

 

A coronha é feita de madeira de boa qualidade, embora não seja de lei. A mesma é de cor clara, tendo sida escurecida e recebido uma cama de verniz para ficar com esse aspecto, além, é claro de anos de suor e óleo singer, claro

 

Terminada a limpeza veio a grande dúvida, disparar ou não essa relíquia, afinal de contas, não tinha a mínima ideia do estado de sua mola e demais mecanismos internos. Daí ouvi novamente o conselho do Franco da Alterama, especialista em armas de pressão, e arrisquei. Com cuidado quebrei o cano levando-o em direção ao gatilho sem muito esforço até que ouvi o "clack" dela sendo armada. Coloquei um chumbo Rossi na culatra, o qual entrou com facilidade e ficou bastante justo, para então fechar a arma. Note que isso foi feito com cuidado em um local seguro, uma vez que carabinas de pressão dessa época não são dotadas de mecanismos de segurança que impedem disparos acidentais (e eram vendidas para uso por crianças e adolescentes!). Apontei para um grande alvo de 50 x 50 cm a 10 metros e pressionei com delicadeza o gatilho, que se moveu macio e então "pufff" e um burado surgiu no alvo, um pouco abaixo e a direita de onde havia apontado ... algo que arrancou um sorriso dos meus lábios.

 

O guarda-mato do gatilho é em aço. Nessa arma simplesmente não há outra peça de plastico senão a guarnição da coronha, de resto é apenas a madeira da coronha e o aço de boa qualidade. Fico imaginando quantas vezes esse gatilho não foi pressionado ao longo de quarenta anos ...

 

Marcas antigas nos parafusos que prendem o corpo da arma à coronha revelam que ela já foi desmontada em algum momento do passado. Um pequeno defeito na quina inferior da coronha também revela que ela sofreu alguma queda no passado. Esses, porém, não são defeitos, mas cicatrizes que tornam a arma ainda mais valiosa, pois contribuem para deixar entrever sua história.

 

Detalhe da peça metálica que prende am ola no lugar e como ela assenta com precisão na coronha de madeira bem trabalhada.

 

Disparei exatamente 20 chumbos Rossi com essa veterana para ter a sensação que não tive quando era moleque, já que nem imaginava meus pais me dando uma das desejadas "espingardas de chumbinho" como essa bela Rossi Modelo I. E, garanto, a sensação é muito boa, como que de um resgate com aquela criança que ainda vive dentro de mim e tinha um desejo reprimido por essa arma.

 

Nessa foto é possível ver a marca ROSSI marcada no corpo da arma, o tamanho do chumbo que deve ser utilizado nela, bem como o recorte da culatra.

 

Outro teste que fiz com essa arma foi de atirar em algumas latinhas de refrigerante a 15m e 20 metros. Nova surpresa, consegui não apenas derrubar como furar de um lado ao outro seis latinhas de refrigerante cheias de água com apenas oito disparos!

 

Detalhe da guarnição de plástico da coronha onde é possível ver a andorinha que ajudou na identificação do modelo e ano aproximado de fabricação dessa bela carabina Rossi Modelo I.

 

Aqui está o que faltava, um vídeo para complementar esse review:

 

 

RESUMO DA óPERA - Realmente foi um prazer ter tido o privilégio de conhecer e utilizar uma carabina de pressão tão antiga que faz parte do meu imaginário de moleque, onde sempre tinha algum amiguinho que conhecia alguém que tinha uma dessas "espingardas de pressão", apesar de poucos a terem visto e muito menos atirado com uma delas. é mesmo raro encontrar hoje em dia uma arma de pressão como essas, queapesar de ter por volta de 40 anos de idade e ter sido utilizada por gerações ainda se encontra em ótimo estado de conservação e, principalmente, de funcionamento. Essa arma merece ser preservada, pois além de ser uma parte da história da indústria bélica brasileira em sua face de entretenimento, guarda uma história própria que tem apenas ela por testemunha.

Editado Março 9, 2012 por Charles Dias

[Cyntra]

Charles,

Mais uma vez, meus parabéns. Você é um verdadeiro Garimpeiro ou Arqueólogo. Sempre trazendo excelentes achados.

[Macedo]

Charles pode anunciar que estarei liberando seu tópico de venda em seguida.

 

Eduardo Macedo.

[andre tassoni]

parabens pela carabina,meu tio tem uma igual a sua mas não sei o ano mas com certeza estas carabinas são reliquias,boa sorte!

[Juan Pla]

Carabina muito bonita, deveria estar no "museu do ar" - Inclusive, fica a dica para criarem um tópico com as carabinas mais antigas dos participantes do fórum.

[karolaza]

Coisa linda se quizer faço rolo nela !!!!

[silversurfer]

Charles, acho que o pássaro na soleira é uma Pomba. A Rossi usava esta marca nas suas espingardas também.

[SVG]

Muito nova !

Tenho uma dessa tb, mas preciso dar um trato na oxidação e orings para por ela na ativa.

Parabéns.

[michel farias]

ola amigo sua bam ja estar customizada com gas e gatilho e qual seria o valor do frete ate macapa aguardo sua resposta por e-mail michelfarias@yahoo.com.br

[Charles Dias]

Respondido por MP.

 

ola amigo sua bam ja estar customizada com gas e gatilho e qual seria o valor do frete ate macapa aguardo sua resposta por e-mail michelfarias@yahoo.com.br

[IvanFB]

No fluminense tem essa carabina, ou um modelo bem parecido, pra atirar. É boazinha de precisão

[AndréCarboni]

Show de bola! eu nao tinha visto este tópico ainda mas é idêntica à que eu restaurei!

Eu nao sabia que essa tinha sido a primeira carabina de pressão no BR.

+1

Abraço

André C.

[M4RC0S]

não tinha visto esse tópico, mas me lembro perfeitamente dessa alça de mira!! devo ter atirado com uma dessas na infância!

[Neubert]

Não tinha acessado este tópico antes que muito me interessa...

 

tenho uma mais não é tão antiga assim

 

Linda se quiser vender me procure...

 

NEUBERT

[Doberman]

Parabéns Charles!!!!!! Arma maravilhosa e acima de tudo super bem cuidada!!! Realmente uma peça incrível!!!

[calemetal]

A minha é idêntica! Foi herança do meu finado pai que a comprou quando ainda era moleque. Aprendi a atirar com essa arminha. Você está de parabéns. Realmente é um achado! A minha está desmontada onde receberá bucha e anel do cano em PU, restauração da coronha e troca da mola (usarei uma mola inox). Vamos ver como vai ficar...

[AndréCarboni]

A minha é idêntica! Foi herança do meu finado pai que a comprou quando ainda era moleque. Aprendi a atirar com essa arminha. Você está de parabéns. Realmente é um achado! A minha está desmontada onde receberá bucha e anel do cano em PU, restauração da coronha e troca da mola (usarei uma mola inox). Vamos ver como vai ficar...

Olá amigo,

vi que é novo no forum e disse que pretende restaurar a sua carabina de herança.

Eu fiz uma restauração exatamente nesse mesmo modelo. Se quiser ver o tópico segue o link http://carabinasdear.com.br/caforum/index.php/topic/5836-restaurando-rossi-dione-anos-70/

André Carboni.

[Cesar Garcia]

Mantenha a originalidade dela.

[calemetal]

O meu foco será apenas pequenas melhorias na parte interna como a troca da mola e buchas. Nem sou louco de passar disso! A coronha foi lixada até remover a camada de anos de óleo singer e wd-40 e encerada apenas. Na verdade falta apenas montar a criança. Está demorando porque o compressor de mola queu fiz está no meu trabalho e eu estou afastado por causa de um recente acidente de moto.

André, vou dar uma olhada no seu post, sim.