Domando a HW35

[Rogério Saran]

Domando a HW35

De dezembro para cá comecei a treinar com a HW35 e aqui divido com os atiradores do fórum algumas impressões. Longe de ser uma avaliação da arma, me restrinjo às impressões que tive com a mudança.



I. O início: HW30s

Durante o ano passado treinei com a Romy, uma HW30s. A arma foi uma surpresa, quase um susto, desde quando comprei no início do ano. Construção perfeita, excelente acabamento, funcionamento suave e um resultado excelente no tiro. Quando não vai melhor, é 100% minha culpa.

Com essa arma consegui aprender um pouco, tomando contato com as regras do tiro em papel a 10m. Aos poucos comecei a me familiarizar com a arma, ajustando o gatilho, o sistema de miras e a postura. Essa HW30s tem uma mola Maccari e desenvolve velocidade de 175 m/s com chumbo RWS R10 Pistol, de 0,45g. Se não errei na conta, isso dá 6,87 Joules.

Com a HW30s comecei a obter alguns resultados razoáveis, nada excepcional. Minha média praticando chegou a 282 pontos, atingindo 290 ocasionalmente (quem compete aqui no fórum sabe que o pessoal de ponta no Brasileiro faz 297, 298 frequentemente com esse tipo de arma). Ficam então as impressões de um atirador medíocre mas que de alguma forma conseguiu se aprimorar em 1 ano de treino.

O que notei ao melhorar tecnicamente foi os pontos em que a arma de alguma forma evidenciava minhas limitações, ou melhor dizendo, falhas técnicas. A arma é relativamente leve (2,7 kg) e tem o ponto de equilíbrio recuado; sem uma postura cuidadosa, a ponta do cano fica "boba", oscila com facilidade. Outro ponto é a potência, ainda que atenuada pelos 10.000 tiros que essa mola já tem, ainda é suficiente para gerar um tranco perceptível. Nada complicado de controlar, mas pede jeito na postura.


II. A HW35

Cheguei então na HW35, que comprei usada de um atirador aqui do fórum.

Como sempre, fotos enganam. Ao empunhar a arma se nota que ela é muito maior e mais pesada do que eu esperava. Com um cano de 500 mm e 1.140 mm de comprimento total, ela tem 155 mm a mais de comprimento, sendo 105 mm apenas no cano. Pesa 3,95 Kg. Batizei-a de Angela (Angela Merkel, uma alemâ de peso).

A Angela tem ainda menos potência que sua predecessora: 5,49 Joules medidos com a mesma munição de 0,45g. Ela atinge 156 m/s. O dono anterior trocou a mola original de 12J (essa arma veio da Inglaterra) por um kit V-Mach de 7,5J. Mas a potência obtida ficou um pouco menor. Ajuda muito em tornar o acionamento suave; Porém seu mecanismo interno, com uma mola e pistão mais pesados e a câmara de maior diâmetro, geram um tranco perceptível.


III. Primeiras impressões

1. Que pesada!
Provavelmente o maior benefício de treinar com essa arma foi corrigir a postura. Enquanto o peso extra ajuda muito, se você tentar ajustar a visada com uma leve contração muscular, além de arruinar a precisão, vai ficar muito cansado e bem rápido.

Eu tenho 82 Kg e 1,75 de altura; provavelmente dentro da média entre os atiradores adultos. Achava a HW30 confortável, mas a HW35 se faz notar na primeira sessão de tiro. Fiquei bem cansado.

O peso porém trouxe 2 grandes benefícios. De imediato, a arma se mantém muito estável. Ela assenta na mão de apoio e se nota claramente que a ponta do cano oscila pouco. Mesmo que você erre um pouco na postura, ela ajuda a corrigir.

O segundo benefício foi corrigir a postura do braço de apoio para estabilizar corretamente a arma. Não dá para apoiar mal o braço no quadril. Se fizer isso, depois de uma dúzia de tiros você fica até com cãimbras. O braço precisa assentar bem, formando uma coluna com o quadril e a perna da frente.

2. Tamanho
Estranhei também a diferença de tamanho. 15 cm parece pouco, mas muda bastante a focalização da maça de mira para mim. Na verdade ajudou, mas no início estranhei.

Na primeira sessão tive muita dificuldade para me adaptar na visada. Cansei a vista rápido. Acho que me tomou mais meia dúzia de sessões para me acostumar.

3. Altura da telha
A coronha da HW35 é bem mais encorpada, não só pela largura maior como também pela maior quantidade de madeira na telha. Isso naturalmente eleva o conjunto de miras em relação ao corpo e favorece manter a cabeça mais ereta.

4. A trava do cano
Para quem nunca usou, parece bem esquisito. Como se faz para soltar a alavanca de trava e ao mesmo tempo começar a dobrar o cano? Se só puxa a trava, o cano não bascula. Para forçar o cano com a mão na trava, o braço de alavanca é curto e fica pesado. Patetadas de iniciante.

Depois de 50 tiros, tudo fica mais fácil. Como não há nenhum tipo de mola, esfera ou mecanismo de retenção além da alavanca de trava, ao se acioná-la é fácil mover o cano 1 ou 2 mm no sentido da abertura. Aí basta deslizar a mão para a ponta do cano e fica muito fácil armar. Bem mais fácil que a HW30s, que tem o cano mais curto e mola mais forte.

5. Suavidade
Esse foi o ponto alto, mais importante que a estabilidade graças ao peso. O mecanismo é muito suave e constante. O comportamento no tiro é muito regular, o acionamento é rápido - seria pelo pequeno curso do pistão?

Não é que não tem tranco. Tem sim e não é desprezível. Mas é de alguma forma bem controlável.

6. Gatilho
Deveria se idêntico ao da outra arma, mas o Rekord admite tantos ajustes que pode ficar muito diferente de uma arma para outra.

Eu usava o gatilho da Romy com uma pequena folga e um segundo estágio bem leve. A Angela veio com um peso maior (calibrada para 500g, como era o regulamento da CBTE) e também um pouco de folga. Estranhei o gatilho, principalmente por conta de um vício que felizmente já perdi. Eu acionava o gatilho sem apoiar a mão no cabo; nessa arma não era possível.


IV. Após 3 meses de treino

Depois de treinar um tempo com a HW30, consegui experimentar algumas variações de empunhadura e me habituar aos cacoetes da Angela. Entre as principais observações que valem menção:

1. Gatilho
Ok, é preciso desenvolver técnica de gatilho, bla, bla bla. Mas não gosto de gatilho pesado. Ajustei para ficar leve, com somente 1 estágio e sem folga. Certo ou errado, parei com as gatilhadas.

2. A trava do cano

Não troco por nada. Fácil de destravar, fácil de armar, fácil de fechar. Imbatível.

 

3. Empunhadura
Testei alguns tipos de empunhadura. Primeiro, o que já usava, indicado e médio da mão de apoio abertos em "v" e posicionados do meio da telha para a frente. Eu mantinha a arma muito solta e quando prendi um pouco mais a soleira no ombro, melhorou. Nesse começo fiz uma média de 282.

Então comecei a usar o punho fechado com os dedos soltos. Primeiro no meio da telha, depois junto do guarda mato. Achei que estava melhor, mas os números não confirmavam: a média caiu para 280 com muitos erros de ponto de impacto vertical, com tiros para baixo.

Mudei para os dedos fechados, com o indicador e médio da mão de apoio apoiados na palma da mão. Melhorou, 281,5. Mas os flyers continuavam, principalmente com oscilação vertical.

Um dia testei todo tipo de empunhadura que já ouvi falar. No final, o melhor resultado foi quando voltei com os dedos em "v", apoiando também o polegar perto do guarda mato. Parou o problema de variação vertical e a média subiu para 284.

4. Postura
Depois das idas e vindas com a empunhadura, percebi que não resolvi todo o problema de postura. Ainda tinha flyers na vertical, com 8s e 7s abaixo do centro. E vários na horizontal, novamente com 8s frequentes.

Descobri que com a arma bem empunhada, pressão correta na soleira e cabo, mão de apoio corretamente posicionada, ainda ficava um problema: a tensão nos quadris e pernas.

O tranco da HW35 não é pequeno. Apesar do mecanismo suave, o conjunto mola-pistão pesa e torna a arma muito sensível à empunhadura e postura do atirador. É diferente de armas mais tolerantes, como a Slavia 631, a Cometa 220 e a Gamo Delta, em que a arma pouco mexe.

Percebi que se as pernas não ficassem na tensão correta, o resultado mudava demais. Num resumo:

* Quadril alinhado com a linha de tiro e inclinado para trás.
* Perna da frente apoiando o peso do corpo.
* Perna de trás relaxada.
* Disparo com tronco relaxado (ao expirar).

Com essa "receita", o ponto de impacto vertical ficou estável. Mas ainda tem flyers na horizontal!

O joelho. Pois é. Se os joelhos não estiverem travados, o tranco da arma move o corpo todo e ela acaba oscilando na horizontal. Com a HW30s você não nota isso, com o peso da Hw35, faz diferença.


V. Status do relacionamento "it's complicated"

Falando assim parece que eu culpo a arma por não progredir. Claro que o problema é meu. Na verdade a HW35 me deu uma aula - melhor, continua me dando uma aula.

O interessante da arma é a constância. Falei em médias de treino, mas raramente o resultado cai muito. Com a HW30 oscilava 10 pontos para mais e para menos. Agora, oscila só 3, 4 pontos.

Comprei a arma e ganhei um curso. Agora preciso acertar a postura. Sempre que consigo ela me premia com 10 no alvo. Eu é que faço muita bobagem...

Agradeço os comentários aqui no fórum! Um abraço a todos.

Editado Abril 10, 2016 por Rogério Saran

[MATTHEW QUIGLEY]

Na mosca!

Cruzeta + então.

Col. M.Q.

[Pedro spolidoro]

Parabéns que dedicação. Espero que o treino te traga a perfeição para chegar no seu objetivo.

[Everton]

+1 Rogério e obrigado por eliminar meu 0,1% de dúvida!!!

Uma das melhores descrições que já li, sinto como se eu tivesse feito os testes!

Obrigado e bom domingo amigo!!!

[murilo]

Muito bacana melhor que review interessante essa analise subjetiva de seus tiros

[Fininho1410]

Ótimo relato, parabéns! Leva +1.

[TPERETTI666]

+1 merecido, realmente um ótimo relato.

[Aurélio]

Opa

 

Estas HW's.....

Obrigado por compartilhar conosco sua experiência.

+1

Abs

[Mario Tulio]

Beleza, Rogério! Não tem milagre no tiro esportivo! Costumo brigar com 2 tiros de cada 5, 3 vão no dez ou nove, e este dois desgarrados são culpa totalmente minha...

[Rogério Saran]

Mario Tulio, não tem milagre e não tem jeito certo. Tem o que funciona melhor para cada um!

 

No domingo passado participei da 3a etapa do paulista em São Paulo, na ADDG, que fica na Vila Maria (um belíssimo clube, por sinal). Fui mal psrs burro...

 

Alguém me perguntou sobre a arma "você colocou uma mola de 7,5 J nessa arma?" - expliquei então que já comprei com a mola mais fraca. Escutei então: "troquei a mola mas não adiantou nada, o tranco continuou forte".

 

Eu faço minhas as palavras. Mesmo assim aprendi muito com a arma; cuidando da postura os resultados aparecem! Não é problema da HW35, o galho é comigo!